MÍDIA E MOBILIDADE
JAIME SAUTCHUK
Os
meios de comunicação social, dos mais antigos aos modernos, interferem de modo
poderoso nas questões de mobilidade urbana, para o bem e para o mal. Interesses
econômicos, especialmente do setor imobiliário e do mercado de automóveis, se
sobrepõem com larga folga aos postulados de políticas públicas que atendam à coletividade.
Teses
acadêmicas e estudos técnicos sobre as grandes cidades brasileiras apontam
distanciamento entre as ações de governos, o interesse coletivo e a mídia.
Esta, em verdade, age de forma estanque, unilateral, sem incentivar ou mesmo
participar de processos de mobilização social que levem ao desenvolvimento
harmônico dos aglomerados urbanos de todos os tamanhos.
O caso
de Goiânia (GO) é exemplar. A mídia tradicional (jornais, TVs abertas e
emissoras de rádio) trata da mobilidade humana de maneira pontual, localizada.
Em geral, o destaque maior é dedicado a acidentes de trânsito, dificuldades no
transporte público e condições de tráfego de veículos. Ao debate sobre o tema,
na busca de soluções, pouco ou quase nenhum espaço é reservado.
Ao
contrário, muitas páginas de jornais e minutos dos meios eletrônicos são preenchidos
com anúncios de imóveis e de lançamentos ou promoções de carros e motos. Nas
finanças dessas empresas é grande o peso dessa publicidade, o que é normal em
qualquer sociedade capitalista. Não há, contudo, equilíbrio entre a busca do
lucro e o debate sobre a qualidade de vida da população.
Não são
questionados, por exemplo, empreendimentos imobiliários que transgridam normas
legais de ordenamento urbano e deixem de lado regras da boa convivência em
sociedade. Muitos dos novos edifícios, comerciais ou residenciais, não têm
estudos prévios que levem em conta as condições de acessibilidade naquelas
áreas urbanas. Mas este aspecto, de um modo geral, não é debatido pela mídia, nem
mesmo na maioria de blogs e portais da net dedicados ao tema.
O Corredor
Norte-Sul de BRT é hoje a maior obra em curso na Região Metropolitana de
Goiânia, com 23 km de extensão, em sentido perpendicular ao Eixo Anhanguera. Deve
ficar pronto em dois anos e vai mudar radicalmente a mobilidade nos municípios
envolvidos. No entanto, durante sua elaboração o projeto foi praticamente
ignorado pela mídia.
Com
isso, a participação da sociedade na definição do sistema foi pequena e boa
parte da população ainda desconhece o significado das obras que já podem ser
vistas. Junto, vêm os conflitos. Há muitas reclamações quanto ao fato de o
corredor não conter ciclovia e a mudança no itinerário de linhas provocou
manifestações populares, com queima de muitos ônibus.
Isso
tudo é fruto de desinformação e falta de debates, funções precípuas dos
veículos de comunicação social. Há, porém, esperança de mudança. Com a
participação de universidades e entidades ligadas ao setor, é possível envolver
a mídia num processo mais amplo de esclarecimento e discussão, que ao menos
reduza as distâncias hoje existentes.
Braço da Ciência da Comunicação, a
Mobilização e Marketing Social, como ocorre mundo afora, pode servir de
instrumento ao debate. Entidades populares podem se somar a associações de empresas
e ONGs da mídia e, juntas, influírem sobre as decisões do poder público. Afinal, o Brasil já conta com legislação moderna e abrangente neste
campo, a começar pelo Estatuto das Cidades e pela Lei da Mobilidade Urbana.
Autor:
JAIME SAUTCHUK é jornalista e escritor. Já atuou nos principais órgãos da grande mídia brasileira, na BBC de Londres e em jornais alternativos na ditadura. Tem mais de uma dezena de livros publicados. Foi criador do festival FICA e assessor do Unicef, do Ministério do Esporte e do GDF (governo Cristovam Buarque). Atualmente é editor das revistas Xapuri Socioambiental e Força Municipal.
Link para baixar em PDF: Boletim Opinião 005
Boletim Opinião nº005 - MÍDIA E MOBILIDADE, JAIME SAUTCHUK
Reviewed by Título Projeto: Fórum de Mobilidade Urbana: Participação, Contribuição e Socialização de conhecimento técnico e científico.
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