Confira a
entrevista com Renato Silveira Costa, 27 anos, ciclo-ativista e estudante de
jornalismo da UFG, integrante do movimento Massa Crítica, em Goiânia, que
defende a humanização do tráfego urbano.
1 Fórum de Mobilidade:
Por que você optou pela bicicleta como meio de transporte?
Renato: Comecei a
pedalar quando me mudei para Argentina, aos 18 anos, por questões econômicas e
também por praticidade, pois lá eu morava perto da faculdade e do trabalho.
Hoje em Goiânia
faço parte do movimento Massa Crítica, o “Critical Mass” que surgiu em São
Francisco (EUA) nos anos 80, com o lema “Nós somos o tráfego”. O movimento foi
criado pelo engenheiro de trânsito George Bliss, que fez uma pesquisa na China
e na Índia, mostrando que os veículos de propulsão humana são mais eficazes em
termos de tráfego nas cidades. Pois quando se tem um sinaleiro para
automotores, mesmo com tempo cronometrado, não se cria um fluxo otimizado, mas
descontínuo. Além disso, o automotor precisa de barreiras por acarretar riscos.
O criador da Massa Crítica observa então que cruzamentos com veículos de
propulsão humana são muito mais velozes, com as bicicletas e pedestres ganhando
em questão de fluxo. Em longa distância é indiscutível que o automotor tem mais
velocidade, mas dentro de uma cidade como Goiânia eu faço, por exemplo, 40
minutos de bike do centro até o campus da UFG.
Hoje o Massa
Crítica Goiânia realiza pedaladas toda última sexta-feira do mês, no período
noturno, para ocupar as vias e chamar atenção para um tráfego humanizado. A
concentração ocorre em frente aos Correios da Praça Cívica.
Fórum: Quais benefícios
você observou no seu cotidiano a partir do momento que adotou a bicicleta como
meio de locomoção?
Renato: Quando você
está dentro de um carro, está mobilizando toneladas para locomover apenas uma pessoa,
diferentemente da bicicleta, que você mobiliza um peso muito menor que o seu
próprio. Então isso se traduz em melhor coeficiente energético da bicicleta em
relação ao carro, o que beneficia sua saúde e o sistema ecológico, por gastar
menos energia e possuir melhor desempenho.
Fórum: Os trechos
cicloviários de Goiânia foram expandidos nos últimos anos e está na marca dos 75
km, com meta de expandir mais. Quais os pontos positivos e quais críticas você
faz às ciclovias e ciclofaixas de Goiânia?
Renato: O ponto positivo
é o reconhecimento da bicicleta dentro do sistema de tráfego urbano.
Principalmente por questão de segurança, pois comecei a pedalar antes das
ciclovias e sempre corria riscos, sendo que foram esses desafios que empoderaram
a nós ciclistas. Mas hoje ainda temos dificuldades. A ciclovia do eixo T-7, por
exemplo, fica no meio da via, ou seja, você corre risco de vida se cair. O
movimento Massa Crítica defende todas as faixas direitas como ciclofaixas
pintadas de vermelho.
Outra crítica
seria que o trabalhador que mora na periferia e precisa fazer uso da bicicleta
diariamente também não tem acesso às ciclovias e ciclofaixas. Muitas ciclofaixas estão reservadas para
serem usadas somente aos domingos em determinado horário. A questão é: quem
realmente se beneficia?
A bicicleta fica como lazer para determinada classe social, mas ela é uma
questão de mobilidade urbana, o que inclui ir para o trabalho. O preconceito
existente em torno da bicicleta faz enxergá-la como um mero instrumento de
lazer e leva à taxação contra políticas públicas que revertem verbas para
construção das ciclovias e ciclofaixas, como vimos no caso de São Paulo, e
acaba escondendo o verdadeiro potencial de mobilidade urbana que a bicicleta
traz.
Fórum: Quais
dificuldades você encontra para se locomover de bike no dia a dia?
Renato: A principal
dificuldade que encontro é a poluição do ar e sonora. Além disso, dividir o
espaço com os carros não é simples, pois estão sempre muito próximos à
bicicleta, então sempre precisamos ficar atentos para conseguir contornar. Mas
com a poluição não é o mesmo.
Fórum: Dê dicas para quem anda de bike hoje em Goiânia.
Renato: A principal
dica do pedal é encontrar a bicicleta ideal para você. Com o tempo você pega
experiência e o próprio desgaste físico e emocional gerado pelo fato de estar
em um trânsito perigoso são diminuídos pelo controle que você tem da sua
bicicleta. Então primeiro você precisa escolher a bicicleta de acordo com seu
tamanho para que tenha domínio dela. Depois vem a sinalização e o capacete como
método preventivo. Além disso, é importante se manter sempre à direita e se
manter alerta. Também é bom ter o conhecimento constante dos benefícios
econômicos, psicológicos e físicos que o pedal traz na vida da pessoa. Com o
tempo, você começa a vivenciar mais a cidade e fora dela, se orgulhar dos seus
trajetos, e a criar um estilo de vida próprio a partir da sua escolha.
O Fórum Entrevista: Renato Costa
Reviewed by Unknown
on
09:52
Rating:
![O Fórum Entrevista: Renato Costa](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh1fJaMEe4Uri0qGwOLlQ_WDJqsvIj7exdLmEsBilrqjNHFpYRPeMAbR_H8_8Kcx5JsbMsOECpGTARYwn90Rhq5QNH4AJVlH_V60XMfi7GFHM6S3HUscuyU0-0646RmaY4IKHc06AOhGgw/s72-c/14355565_1207476329324824_3788692982375896457_n.jpg)
Nenhum comentário: